quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DIFICULDADES PROSAICAS

A vida tem grandes desafios. Mas os pequenos às vezes são intransponíveis. Ontem tive uma experiência difícil com a combinação roupa e chuva, por exemplo. Pra sair, calça, blusinha, blusa, cachecol, casacão, luva, bota, bolsa, mala pro notebook e guarda-chuva. Saio de casa. Já nos primeiros metros a bota do pé direito começa a engolir a meia. Aos poucos, a meia vai se dirigindo ao calcanhar. Penso em parar pra arrumar. Como é que eu faço? Imagino a cena. Teria que me sentar e não há mão disponível. Posso tentar com uma só, mas teria que tirar a luva. Com a luva, perco bastante da motricidade. Continuo. A bota carrega a meia pra sola do pé. Tento abstrair, olhar as casas em volta. A alça do sutiã começa também a incomodar. É só dar uma ajeitadinha, como os homens às vezes ajeitam o ... não importa. Teria que tirar uma luva, abrir o casacão, puxar o cachecol de lado, por a mão por dentro da blusa e finalmente dar uma ajeitadinha!! Impossível!! O vento começa a virar o guarda-chuva do avesso. Descobri que guarda-chuva suéco também vira do avesso. Os reis do design ainda não conseguiram resolver essa encrenca. Pelejo pra desvirá-lo. Fico prestando atenção na b... do vento pra evitar que aconteça de novo. Nem sinto mais a meia toda encolhida na sola do pé. Só no direito. O esquerdo tá legal, me concentro nele. O vento vem cada hora de uma direção. Já estou atravessando a ponte, faltam só alguns metros! Cheguei! Passo pela primeira porta, pela segunda e sinto aquele bafo quentinho delicioso! Tiro luva, abro o casacão, desenrolo cachecol e finalmente ajeito o sutiã. Pra arrumar a meia, só subindo até a minha sala. Não há cadeira na entrada do prédio. Teria que sentar no chão e imagino a cena constrangedora. Tento uma cara de tranquilidade. O suor na testa denuncia o desconforto. E a raiva. Tenho vontade de subir correndo a escada. Suaria mais e correria o risco de cair de novo. É melhor não. O roxo do meu joelho já ta ficando verde. Estou quase boa. Exercito o autodomínio. Doze anos de divã tem que servir pra alguma coisa! Venço calmamente os degraus. Cá estou eu! A mente venceu! A culpa é da previsão do tempo que errou! Era pra nevar de tarde, mas choveu de manhã!!!