quarta-feira, 30 de setembro de 2009

PRIMEIRA APRESENTACÃO

Finalmente chegou a hora. Cheguei na universidade por volta das 9:30hs pra conferir tudo. Só falaria às 13:00hs. O professor Töra (ele é tão feio quanto o nome) me procura preocupado com a instalacão do computador na sala de aula. Falarei para os alunos dele. Todas elas têm multimidia, dois tipos de lousa e tela. É só apertar o botão certo e eles sobem e descem. Bacana, mas nem tanto. O professor não sabe qual fio colocar aonde e fica um pouco tenso. Ele vai dar aula às 10:15hs e quer deixar tudo certo. Pede que eu fale com a Anita, mas ela não é técnica e nem está na universidade ainda!! Ontem, testamos meu computador (meu não, do meu marido que sugeriu que eu troxesse mesmo tendo um aqui – foi uma ótima idéia, porque tenho adiantado muita coisa no apartamento e trago pra cá no dispositivo de caneta, também conhecido como pen drive) e funcionou perfeitamente!! Ele sugere que o problema pode ser no meu computador (sou do terceiro mundo mas não sou burra!). Se funcionou em outra classe ontem porque não funcionaria hoje? A universidade é tecnológica, mas as pessoas não. Vi que ele bóia no assunto bem mais que eu!! Finalmente a Anita chega com o técnico e acerta tudo durante a aula dele. Tinha que ser aquela hora porque o rapaz ia almocar e não poderia ajudar depois. Parece a gente na Unisantos atrás do povo da multimidia, implorando ajuda!!) Tacks. Ainda bem que deu certo! Almocamos em outra cantina. Mesmo rango mais barato ainda, 41,00 giselas. Mais 5 dias e acabo comendo de graca. Semana que vem vão me pagar pra comer!! Aos poucos os alunos vão chegando e a minha boca vai secando. São cerca de 40. Sobrevivi!! Foi bacana. Acho que gostaram. Fizeram muitas perguntas e acho que é um bom sinal. Anita ficou feliz. Outro bom sinal. Perdi a virgindade de palestras em inglês para nórdicos. Na quarta que vem falo de novo pra eles. Deverá ser mais fácil. No final converso com alguns. Não consigo prestar muita atencão no que uma menina fala. Ela tem olho cor de bola de gude azul-marinho. Que demais!! Acho que é a Lorelai do Mar Báltico! Em seguida um merecido café. Na máquina da sala dos professores tem um café “espresso svart”. Expresso preto? Tem expresso de outra cor? Nota 6,5. Da pra matar a vontade. Agora escrevo mais relaxada. Amanhã vou tentar pegar um bumba até o centro da cidade. É o número 4 ou 5. Depois eu conto. Se não postar mais é porque me perdi!!

EXPECTATIVA

Na terca vivi a expectativa da primeira apresentacão (estou no computador na universidade e aqui não tem ce cedilha, mas tem å – agora vai o nome certo da cidade, Luleå!!) Passei o dia organizando o material. Na hora do almoco veio o primeiro mico. Tomei um tombo da escada de dar dó!! Digno de uma video cassetada. A Anita desceu rápido, é uma escadinha íngrime que corta caminho e eu achei que podia acompanhá-la. Desci os últimos degraus literalmente rolando!! Eu tava me achando, porque vim sozinha a pé do apartamento sem me perder. Esfolei a mão direita e bati o joelho esquerdo bem legal. Ficou roxo e inchado, mas fiz bastante compressa com gelo e hoje já está bem melhor. A Anita coitada, quase morreu de susto, porque o tombo fez um barulhão!! Um constrangimento, sem dúvida!! O almoco na cantina da universidade foi bom. As aulas acabam às 11:45hs e recomecam às 13hs. Fomos no horário da muvuca. Muitos alunos que têm bolsa de estudos trazem a comida de casa pra não gastar. Fica cheio de suéco comendo de quentinha. Por 51,00 giselas come-se salada e um prato quente a escolher, não importa a quantidade. No final da tarde a Anita mostrou a programacao feita pra mim: aula na quarta, seminário na próxima segunda e mais aulas quarta e quinta próximas. Fiquei até às 11 da noite montando a primeira. Usei três videos do you tube. Dois sobre o Brasil, um mostrando o Brasil turístico e exótico e outro nossa enorme diversidade social. O terceiro apresenta Santos. Coloquei algumas informacoes sobre o país, a cidade e a Unisantos. Por fim, dei as linhas gerais da formacao de psicólogo e do tripé ensino, pesquisa e extensão na universidade. Acho que ficou razoável.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

FINALMENTE A UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA DE LULEA

Logo no primeiro dia fui apresentada para uns 20 professores. Ou mais. Participei de uma reunião na qual cada um falou sobre suas atividades durante a semana. É uma estratégia pra manter o contato entre os professores de um mesmo departamento. Foi feita em inglês por minha causa. O sueco é difícil de entender. Tem algumas palavras parecidas com o alemão e o inglês. Tak é obrigado. Os dias da semana e alguns números também, de resto, é como estar em Marte ou Júpiter. Bóio. Mas o inglês é falado por todos. Em restaurantes, lojas, todo canto.
Andamos um monte pelo campus. São prédios baixos, interligados, todos de aço. Zanzamos tanto que perdi a noção de onde estava. Mas a manhã foi muito produtiva. Peguei um cartão para a biblioteca, outro para a academia, recebi senha para usar o computador de uma sala, assim como a chave da porta. Ao lado de cada porta há a foto e nome do dono com um espaço para um recado. Quem está viajando avisa quando retorna, etc.
Recebi o cheque com o valor da bolsa, fomos ao centro receber o dinheiro e já paguei o aluguel do apartamento onde estou. Passamos por uma loja da Telia, uma operadora de celular. Acabei comprando um aparelho já que o meu está bloqueado para outros chips. Chamar daqui é muitíssimo mais barato que do Brasil. Carreguei com 100 giselas, digo coroas e já liguei pra família!!
Almoçamos na Casa de Cultura, um lugar muito bacana com comida por volta de R$20,00, incluindo salada, prato principal, bebida e café (ou algo parecido). Ótimo preço para os padrões europeus! Voltamos e instalei-me na sala. Finalmente pude ver meus e.mails, mas ainda não com a calma que gostaria. Soube que vou dar minha primeira aula na quarta às 13hs, para alunos de primeiro ano. Amanhã tenho que deixar tudo pronto.
Göran nos procura para contar seu encontro com o assessor do Ministro da Educação do Iraque. Eles estão preparando um acordo de cooperação entre os dois governos. Amanhã o ministro assina. Fomos à sala dele e ele nos mostra o livro que ganhou. O iraquiano disse que levou 25 anos pra escrever. Abrimos e está todo em árabe. Göran diz que vai levar 250 anos pra conseguir ler!! Eu e a Anita rimos muito. Ele é engraçado. Começou a nos mostrar o tanto de presentes que ganhou através do trabalho junto a universidades de diferentes países. Há um Buda enorme em cima do armário, um cinzeiro com escultura de pirâmides, uma sacola cheia de gravatas. Algumas parecem com as do Didi. Aproveita pra me dar um boné da universidade. O símbolo é a letra L maiúscula. Digo que minhas filhas vão gostar porque o nome delas começa com ele. Ele então me dá mais dois. Ainda tira do armário dois pen drives e nos presenteia.
Fomos a sala de um professor da engenharia especialista em estruturas em aço. Ele é o responsável por um intercâmbio que recebeu 15 alunos brasileiros de graduação. Pelo que entendi são da USP. Ganho mais três camisetas pólo. São bem bonitas. Nossa, quantos mimos num só dia!! Saio carregada do campus.
Passamos por um supermercado e abasteço um pouco a geladeira. Se a Anita não estivesse comigo is ser difícil. Uma coisa foi fácil: a becel é igualzinha a nossa. Há pães de tudo quanto é tipo. Comprei um que gostei bastante, por indicação dela. É integral, mas levemente doce. Incluí coisas pro café da manhã, lanche e é claro, coador pra tentar fazer um café decente.
Voltamos a pé para o apartamento. São só 10 minutos. Tomo um banho e faço um lanche assistindo Idol na TV. Os reality shows são iguaizinhos. Não precisei nem entender sueco!! Olho no termômetro do lado de fora: 4°C. O relógio marca 23:02hs. Já deu por hoje.
A CIDADE ANTIGA
No domingo a profa. Anita chegou de Gotemburgo e veio me encontrar por volta das 14:30hs. Pela manhã aproveitei pra ver os filmes que trouxe. Levou-me inicialmente pra conhecer um parque perto do rio com uma pequena pista de esqui onde seus filhos se iniciaram no esporte. O lugar é muito charmoso, mas com o vento cortante não me animei a tirar fotos. Andamos pelas antigas instalações das usinas de aço que cercam a cidade. Lulea vive essencialmente dessa indústria. Mostrou-me também um hospital novo considerado um dos melhores da Europa. Entramos rapidamente. É um prédio novo inteiramente diferente de qualquer hospital que eu tenha visto. Por dentro é uma pequena cidade. Os espaços são amplos, com lojas, centro de informação, correio, etc. Não parece de fato um hospital. Pretendo voltar pra conhecê-lo melhor. Anita me explicou que há dificuldade em encontrar bons médicos pra trabalhar dada a distância de Estocolmo. Lulea fica 1.000km ao norte de Estocolmo. Todos viajam de avião, mas se a reserva não for feita com relativa antecedência não se encontra lugar com preços razoáveis.
Passamos para pegar o marido da Anita e fomos novamente ao Margareta. Que sacrifício!! Outra esbórnia alimentar. Dessa vez comemos carne de rena. Deliciosa. Muito macia e com tempero saboroso. Tomei duas cervejas long neck, mas o casal tomou cerveja na entrada e derrubou uma garrafa de vinho apreciando a carne. Subimos para o café junto aos empalhados. Três horas de refeição, das 16 às 19hs. É o movimento de desaceleração. Os mais velhos são sempre mais sábios!! Foi maravilhoso. Bom papo, boa comida, bom tudo.
Esqueci de falar que restaurante fica numa região chamada Gammelstad, que significa cidade antiga. Há cerca de mil anos atrás Lulea era um arquipélago e o nível do mar era 10 metros mais alto. No lugar onde hoje há uma igreja havia uma pequena ilha. Durante o século XIV tornou-se uma importante área de comércio. No século XV a construção da igreja foi iniciada. Em 1641 a cidade de Lulea foi fundada. Alguns anos mais tarde essa região começou a secar e tornou-se impossível a manutenção da navegação. Aos poucos os negociantes foram se mudando para as áreas mais próximas da costa, iniciando a parte nova da cidade. Esta antiga região, no entanto, está inteiramente preservada. Tem inúmeras pequenas casas em volta da Igreja formando uma vila que parece ter parado no tempo. Um cenário de filme. Poderia ter sido usado para As bruxas de Salém. Nos anos 90 Gammelstad foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO. Um lugar que também preciso voltar.
Lulea continua secando a um ritmo de um centímetro por ano. Em um século terá subido um metro. É um bocado!!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MARGARETAS VARHÄUS

Fui recebida pelo prof. Göran, marido da profa. Anita, responsável pelo intercâmbio. Ela tinha me avisado que no sábado iria a Gotemburgo visitar o filho. O professor fez uma excelente recepção. Levou-me ao apartamento onde me instalaria e pelo caminho foi mostrando a cidade. Lulea tem apenas 70 mil habitantes, espalhados em uma grande área. Não há prédios com mais de sete andares. Mesmo estes são raros. De um lado há o rio Lule e do outro o mar Báltico. A vegetação é toda de pinheiros e pequenas árvores que nessa estação estão em tons de verde, amarelo, laranja e vermelho.
O apartamento tem um grande cômodo que funciona como sala e quarto, banheiro e uma confortável cozinha americana. Bons armários nos corredores e material de cozinha, toalhas e lençóis. A professora Vanessa da África do Sul havia saído na véspera e me deixou um simpático bilhete de boas vindas, como também um providencial pequeno suprimento de comida para o café da manhã de domingo.
Passamos na Universidade para telefonar para casa e Göran (fala-se Ioran, equivalente a Jorge em português e Iuri em russo) me mostrou o laboratório de testes em materiais do departamento de Engenharia. Estava um dia de sol, 16 °C apesar do vento frio. Coisa rara por aqui. Göran me diz que provavelmente verei neve antes de ir.
Às 17:30hs passou para me pegar e irmos jantar com outro professor visitante do Canadá que estava indo embora, a esposa e um casal de indianos que mora em Lulea há mais de 20 anos. O marido é também professor da Universidade. Fomos ao lugar do título. Margareta é o nome da senhora que comprou uma casa antiga e reformou para adaptá-la a um restaurante, preservando suas características e incluindo obras de arte e animais empalhados. Parece estranho falando, mas o lugar é lindo. No térreo estão as mesas com fina decoração de época. No andar de cima os animais empalhados e grandes mesas onde se toma chá ou café ao término das refeições. Os animais são pra nós ilustres desconhecidos. Variações de lobos, linces, ursos e pavões típicos da flora da região, como diria Ana Maria Braga!!
O que pedir no jantar (6 da tarde de sábado!!)? Margareta fez suas recomendações e todos comemos os mesmos pratos. De entrada uma seleção de pequenas carnes defumadas e caviar de um peixe que nunca ouvi falar, bem pequeno, só encontrado por aqui. Disseram que vem gente de toda a Suécia experimentar essa iguaria. Como prato principal uma ave, acho que algo como uma codorna com geléia de algumacoisaberry. Há muitas frutas berry como nos EUA. Frutas de clima frio. De sobremesa outra berry com sorvete e chantily. Um vinho branco para acompanhar. Bebi pouco como sempre, o suficiente para dar uma cochilada na mesa. Em um momento perdi o fio da meada da conversa. Mesmo porque a indiana tinha um sotaque terrível e algum problema de dicção que tornava a conversa um certo mistério pra mim. A esposa do canadense era de origem escocesa, falava calmamente pronunciando todas as letras. O fato é que não fiz feio. Utilizei a estratégia recomendada por um primo, falar três hã, hã, hã seguidos de um poooxa!! Infalível!!
Jantar supimpa. Saímos por volta das 21hs. Pouco movimento na cidade. Eu cansada demais dormi como um anjo.
CRUZANDO TRÊS MARES
A segunda postagem demorou, mas chegou! Escrevo domingo à noite para postar amanhã de manhã quando chegar na Universidade de Lulea. A letra a do nome deve ter um círculo em cima que não é possível digitar em português. Deve-se ler Lúleo. O apartamento que estou fica bem perto do campus, mas não tem telefone nem internet.
A viagem foi bem tranquila. O vôo da Lufthansa saiu às 13:00hs de Guarulhos e chegou às 0:45hs em Munique. Sentei ao lado de uma alemã linda, parecia modelo. Linda, cansada e esfomeada. Só dormiu e comeu durante as quase 12 horas de vôo. Devorava a comida compactada mais depressa do que se pode pronunciar Heidi Klum!! Virava pro lado e dormia como uma criança. Eu dormi alguns trechos, sempre no meio dos três filmes que tentei ver, todos brutalmente valiosos para a cinematografia internacional: Hannah Montana, Uma Noite no Museu 2 e Velozes e Furiosos 4.
Como há cinco horas de fuso a mais para a Europa, desembarquei às 5:45hs da madrugada. No check in em São Paulo já recebi o cartão de embarque dos três trechos, o que facilitou a baldeação. Conferi o número do portão de embarque e fui aguardar o próximo vôo para Estocolmo que sairia às 9:15hs. Por volta das 6:30hs o sol despontou através do vidro da sala de embarque como nos batidos cartões postais de banca. Os cartões parecem bem bregas, mas ao vivo o sol nascente não deixa de encantar. Tomei um café da manhã caro e ruim, como sempre são os serviços de aeroporto e tentei cochilar.
Por volta de 11:20hs cheguei em Estocolmo onde teria que pegar minha mala de 31Kg (eram muitos livros!!!) e despachá-la para Lulea. Por ser vôo doméstico, faria a inspeção de bagagem em Estocolmo. Tinha uma hora e vinte minutos para fazer isso. Chegando no balcão a funcionária me informa que teria que pagar por excesso de peso , já que só permitiam 20kg por passageiro em vôos internos. Expliquei que vinha de São Paulo e que poderia viajar com duas malas de mais de 20 qullos, por isso não tinha me preocupado com o peso. Fiquei parada pensando como faria. Tinha acabado de trocar alguns dólares por coroa sueca, mas achei que talvez fosse melhor gastar em dólar ou no cartão de crédito. Eram 600,00 coroas. 600 giselas. Cerca de R$150,00. Ela deve ter pensado que eu não tinha dinheiro, ou sei lá que passou na cabeça dessa generosa agente das Linhas Aéreas Escandinavas. O fato é que me perguntou se eu havia comprado todo o trecho de uma vez. Disse que sim. Ela me olhou com cara de compaixão pelo terceiro mundo e disse que nesse caso prevalecia o critério de peso internacional. Incrédula e agradecida fui para a sala de embarque.
Às 12:50hs parti para Lulea num vôo lotado de suecos enormes, alguns vindos do túnel do tempo. Tinham uns oito quarentões cabeludos e tatuados, com roupa preta e instrumentos musicais. Certamente não eram do ABBA. Do alto se via o último mar que cruzei, com pequenas ilhas de areia. Pontualmente às 13:55hs desembarquei em Lulea. Um pequeno aeroporto com apenas três lugares para os aviões encostarem. Desci por uma escada no fundo do avião e lá veio o tal do vento gelado da cidade me dar as boas vindas.
Assim cruzei o Atlântico, o Mediterrâneo e o Báltico.

domingo, 20 de setembro de 2009

Primeira Viagem

Esta é a minha primeira viagem como blogueira e intercambista. Vou para Lulea, Suécia, na próxima semana em um intercâmbio entre a Universidade Católica de Santos e a Universidade Tecnológica de Lulea. A ideia deste blog é de servir de comunicação com meus alunos, colegas da universidade, amigos e parentes para contar as minhas viagens sobre a viagem a Lulea. Pretendo apenas oferecer minhas impressões pessoais, fazer comentários e relatar os eventuais micos que certamente acontecerão. Escrever sobre a vida diária que é o terreno sobre o qual a construção e o desenvolvimento das relações acontecem. E viajar!